19:48 01-12-2025
Fortaleza de Emder: a cidade perdida do épico russo
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Conheça a história da fortaleza de Emder, a cidade úgrica revelada por um épico russo. Arqueologia, comércio de peles e a queda de um bastião na taiga.
A história de um épico russo que se transforma em mapa de trabalho para pesquisadores daria um romance de aventura. Mas foi exatamente assim que, no fim do século XX, localizaram a antiga cidade de Emder — um reduto fortificado dos Ob-Ugrianos que, durante séculos, existiu apenas em cantos e tradições.
O épico que mostrou o caminho
No final do século XIX, etnógrafos registraram lendas Khanty, incluindo a bylina sobre os heróis de Emder. O texto soava como a saga de cinco irmãos, mas o folclorista Serafim Patkanov percebeu um indício essencial: a cidade ficava à beira de um rio que não gelava no inverno, com margens cobertas de geada. É difícil ignorar como um único detalhe descritivo fez a busca sair da adivinhação para algo próximo da cartografia.
Quase um século depois, os arqueólogos Alexey Zykov e Sergey Koksharov cruzaram essa descrição com o rio Yendyr, afluente do Ob. Mais tarde, o geofísico Vladimir Dolganov lhes falou de taludes e depressões incomuns ao longo das margens. A hipótese ganhou corpo. Em 1993, uma expedição descobriu um assentamento fortificado a 68 quilômetros de Nyagan. No promontório onde se erguia o bastião crescia um larício gigantesco — tal como o épico mencionava uma princesa coruja pousada numa árvore de casca descamada. Se algum lugar confirma que a tradição oral consegue carregar coordenadas por séculos, é este.
Uma fortaleza nascida da taiga
Anos de escavações revelaram Emder como um autêntico castelo de madeira, dos séculos XI ao XVI. O traçado se lê menos como ruína e mais como a planta de uma pequena entidade política.
- As muralhas de larício erguiam-se em duas fileiras;
- entre elas corria um fosso, provavelmente com água;
- no interior havia dezenas de edificações, de residências nobres a alojamentos de guerreiros;
- nas proximidades funcionava uma forja onde se produziam armas e armaduras.
A cidade ardeu mais de uma vez, e foi reconstruída pelos moradores — algo que diz muito sobre seu peso estratégico. Emder não era uma aldeia periférica; funcionava como centro político de um pequeno principado úgrico.
Comércio, armas e laços com terras distantes
A economia da fortaleza apoiava-se na caça, na pesca e na criação. A verdadeira riqueza vinha das peles — uma espécie de moeda apreciada em toda parte.
Arqueólogos encontraram:
- adornos de prata e bronze,
- contas e espelhos,
- fragmentos de cota de malha russa dos séculos XIII a XIV.
Os achados apontam para laços comerciais amplos — de Novgorod às terras tártaras. Por intermediários, as peles seguiam até a Europa e a Ásia Central. Artesãos de Emder trabalhavam osso, couro e fundição de bronze, e o poder era transmitido por linhagem. No século XVI, a cidade tornou-se vassala do principado de Koda, sem perder a relevância.
A saga dos irmãos e seu desfecho trágico
No núcleo da lenda de Emder está a bylina de cinco irmãos guerreiros. Ela percorre o arco completo de um épico: um irmão mais velho célebre pela força; o caçula Yag, veloz como o vento; a busca por uma noiva numa cidade distante no Konda; uma desavença que degenera em sangue; a morte de três irmãos e o voto de vingança. Embora seja poesia, os arqueólogos observam que muitos detalhes — nomes de rios, menções a larícios e a inimigos — ressoam com o que a pá confirmou. Esse cruzamento de verso e evidência soa incomumente convincente.
Os últimos dias de Emder
A cidade deixou de existir no fim do século XVI. Foi tomada de assalto e arrasada. O adversário final permanece incerto — talvez grupos vizinhos, talvez forças vindas do oeste. Após a caída do reduto, a lembrança sobreviveu apenas no canto épico, até que a arqueologia a devolveu aos registros.
Patrimônio sob ameaça
Hoje, o sítio fortificado do Yendyr é patrimônio histórico regional. Sua preservação, porém, vive em risco. A cada temporada, arqueólogos encontram vestígios de saqueadores, e no fundo da taiga é difícil contê-los. Cada peça perdida é uma página insubstituível da história.
Ainda assim, o trabalho continua. O museu de Nyagan promove programas educativos, e acampamentos arqueológicos são organizados para adolescentes. Há planos de erguer uma reconstrução da fortaleza de Emder como parte de um futuro complexo cultural. Quem sabe, um dia, os visitantes percorram aquelas muralhas e escutem o eco do épico que guiou estudiosos até uma cidade desaparecida.