21:21 28-11-2025

Geisha já foram homens? A história esquecida dos taikomochi

Descubra a origem masculina das gueixas no Japão: quem eram os taikomochi, como as mulheres tomaram a cena e por que a história muda nossa visão da tradição

A imagem da gueixa há muito é reconhecida como um dos símbolos do Japão: uma figura elegante de quimono, maquiagem impecável e movimentos fluidos, calculados. Pode parecer que a profissão sempre pertenceu às mulheres, mas a história aponta outro começo — houve um tempo em que as gueixas eram homens.

Quem eram os taikomochi — e o papel que desempenhavam

No Japão medieval, havia artistas masculinos conhecidos como taikomochi, também chamados de hokan. Eram convidados para instaurar o clima festivo: contavam histórias e piadas, cantavam, tocavam instrumentos e mantinham a conversa viva. Frequentavam casas aristocráticas, como mestres da interação social — algo próximo de animadores ou mestres de cerimônias, mas dentro de um repertório tradicional.

As menções mais antigas a esses artistas remontam ao século XIII e, por séculos, eles permaneceram uma presença cultural relevante em seu tempo.

Como as mulheres assumiram a cena

O cenário mudou em meados do século XVIII. Registros históricos indicam 1751 como o momento em que surgiu a primeira gueixa mulher. Com o tempo, elas atraíram mais atenção: suas danças, canções e performances instrumentais encontraram público ávido nas cidades em crescimento, onde a curiosidade por novas formas de lazer aumentava.

Aos poucos, as intérpretes foram suplantando a tradição masculina. Os geisha do sexo masculino se tornaram raridade — ainda que tenham inaugurado o ofício.

O que aconteceu com os geisha do sexo masculino

A profissão de taikomochi entrou em declínio gradual. No século XX, seus praticantes rarearam e, hoje, restam apenas alguns. Segundo os registros preservados, há cerca de cinco: quatro em Tóquio e um em Kyoto. Mantêm a tradição mais por devoção do que por renda, quase invisíveis ao grande público.

Não é de espantar que a maioria das pessoas hoje pressuponha que gueixa, por definição, é mulher — embora o registro histórico conte uma história mais complexa.

O que mudou — e o que permanece

Embora hoje a profissão seja majoritariamente feminina, a essência do trabalho pouco mudou. Continua a ser a arte da sociabilidade: criar uma atmosfera especial, narrar histórias, conduzir a conversa, prender a atenção.

O que se transforma é a aparência, as atitudes sociais e a composição de gênero de quem atua. A gueixa moderna tornou-se um emblema de feminilidade; lembrar as origens, porém, desfaz suposições e aprofunda a compreensão da tradição.

Por que isso importa

Essa trajetória fala não só da cultura japonesa, mas também de como as profissões se transformam, de como os papéis de homens e mulheres evoluem e de como as tradições se ajustam ao seu tempo. O que hoje parece natural e “imutável” já teve outra configuração.

Reconhecer isso ajuda a ler os processos culturais com mais nitidez e a revisitar, com olhar renovado, o que julgávamos evidente.