14:37 25-11-2025

Instalação subterrânea em Murmansk: da lenda à prova

Explore a instalação subterrânea em Murmansk: abrigos e postos da Segunda Guerra, poços de 27 m, ventilação e achados que confirmam a antiga lenda histórica.

Uma lenda que, no fim das contas, não era assim tão impossível. No início dos anos 2000, uma nota na imprensa tablóide local falava de uma suposta instalação subterrânea de grandes proporções. O autor batizou o lugar de Cidade de Conto de Fadas e dizia que ele se escondia sob a malha urbana. À época, soava como mais uma história de susto — cada cidade tem os seus mitos. Só que os anos passaram e o rumor, antes recebido com sorrisos de desdém, acabou por conduzir a achados bem concretos.

Quando as lendas começam a fazer sentido

Por volta de 2011, um punhado de relatos dispersos começou a encaixar. Fontes diferentes apontavam para o mesmo bairro. Depois de peneirar as pistas e ponderar que tipo de obras subterrâneas poderiam ter sido erguidas ali no século XX, os pesquisadores afunilaram a busca para vários pontos específicos.

Numa dessas áreas, revelaram um acesso em rampa que descia quase vinte metros. O percurso terminava em água. A partir dali, abriu-se uma longa série de descobertas.

Como se soube mais tarde, no início da guerra os comandos locais de defesa antiaérea nas grandes cidades impuseram a construção urgente de abrigos para civis e de postos de comando protegidos para manter a infraestrutura urbana a funcionar. Um desses locais começou a ser implantado no Ártico, na cidade de Murmansk.

Novas entradas e primeiras conclusões

Nos anos seguintes, a mesma zona rendeu novos acessos, poços de ventilação e saídas de emergência. A distância entre os pontos mais externos chegou a cerca de meio quilómetro. O nível da água variava de ano para ano. Em frios rigorosos, avançava-se por água gelada; no verão, a opção era um colchão inflável. Houve uma vez em que a retirada foi imediata, quando uma bolha de metano subiu sob o piso.

Ao todo, identificaram-se oito entradas principais e cerca de uma dúzia de poços. Nem tudo pôde ser explorado, mas bastou para perceber a escala.

O que há sob a rocha

Os espaços subterrâneos situam-se, em média, a cerca de 25 metros de profundidade, chegando a 27 em alguns trechos. Detalhes construtivos preservados indicam que a instalação foi posta em serviço em 1947. A abertura fez-se por afundamento vertical: escavavam-se poços e, a partir deles, escavavam-se corredores horizontais. Sobre cada poço erguia-se um bloco de betão armado com sistemas de ventilação e salas auxiliares.

Os tetos foram reforçados com vigas em I, entre as quais se colocaram chapas de aço. A espessura da laje chegava a quatro metros. Por cima iam colchões de proteção e uma camada de terra — um esquema típico de abrigos concebidos para resistir a onda de choque e estilhaços.

Ponto de partida: um barracão discreto num pátio

O primeiro local que transformou a busca numa investigação a sério era uma pequena estrutura encaixada num pátio residencial. Parecia um posto de transformação banal, mas escondia uma descida em rampa. No interior, havia um pequeno ciclone de ventilação. A escada seguia para baixo; a meio, uma portinhola dava acesso ao lance seguinte.

A descida levava a uma galeria de acesso — um corredor por onde entrava o ar. No final da galeria havia um poço de ventilação com quatro válvulas de sobrepressão dos anos 1940. Sob a onda de choque, fechavam-se automaticamente.

Uma saída de emergência camuflada

O poço também servia de saída de emergência. Estava coberto por lajes de betão, com o topo disfarçado como se fosse o piso comum do pátio. Ali perto ficava a entrada para o bloco de ventilação acima do poço. A porta hermética original dos anos 1940 sobreviveu apenas em parte: mais tarde foi trocada por um modelo mais novo e, nos anos 1990, acabou retirada.

Filtragem e sobrepressão

Além da porta havia uma pequena antecâmara com duas passagens. A maioria das portas já tinha sido retirada, restando só os aros. A passagem da esquerda conduzia a quatro filtros de poeira PFP-1000. O equipamento principal de ventilação ficava mais abaixo, nos blocos inferiores.

Depois dos filtros, um duto levava o ar para baixo ao longo do poço. Ao lado, uma sala tinha suportes para cilindros de ar comprimido — eram cerca de quinze. Eram eles que mantinham a sobrepressão no interior.

Marcas de antigos sistemas e sinais do passado

Noutro ponto do bloco, permanecia embutida na parede uma pequena válvula de sobrepressão. Adiante, havia outra antecâmara. Sobre uma das aberturas, sobrevivia o contorno esbatido de um emblema de foice e martelo. Depois dela, uma sala tivera cerca de uma dúzia de reservatórios de ar. Em alguns trechos, a cal antiga descasca — o betão parece esfarelar em lâminas.

Descida ao poço mais profundo

O corredor principal leva a um poço que cai 27 metros. De um teto escorado por vigas pendia um pequeno reservatório de água. Seguiam-se doze lances de escada. Num dos patamares ficava a entrada para a sala de bombas do terceiro nível. Ali, resistia uma porta hermética dos anos 1940 — a única sobrevivente de três originais. Para além dela, corria uma galeria que conduzia a outra porta hermética preservada e a um vaso de expansão.

O limite do que foi explorado

Mais abaixo, alguns lances adiante, surgia o nicho da sala de bombas do segundo nível — o equipamento há muito fora removido. A partir de certo ponto, as escadas encontram água. Ao longo dos anos, o nível subiu e desceu dezenas de vezes. Por vezes foi possível descer nove lances; noutras, dez ou onze.

Houve uma ocasião em que as condições permitiram aceder aos corredores inferiores, mas isso já é outra história.