18:32 24-11-2025

Yarlung Tsangpo: o cânion mais profundo do mundo no Tibete

Descubra o Yarlung Tsangpo, o cânion mais profundo da Terra, no Tibete. Entenda como o Brahmaputra venceu os Himalaias, suas quedas d’água e desafios atuais.

Durante séculos, os tibetanos relutaram em deixar forasteiros entrarem em um dos vales mais isolados do planeta. Ali, entre as cadeias montanhosas mais altas da Terra, um rio mais tarde apelidado de Everest dos rios abriu passagem pelos Himalaias e talhou um corte de pedra colossal — o cânion do Yarlung Tsangpo.

O acesso segue restrito até hoje, mas uma certeza resiste: trata-se do cânion terrestre mais profundo do mundo, encaixado nas franjas do Planalto Tibetano. É difícil não perceber o rio como o protagonista discreto da região.

Rio sagrado do Alto Vale

O nome Yarlung Tsangpo pode soar incomum, mas seus sentidos dizem muito: Rio Puro do Alto Vale ou Rio que Flui dos Céus. É o alto curso do Brahmaputra, um dos grandes rios do sul da Ásia. Ele nasce a quase cinco mil metros, onde dois cursos glaciais se juntam. Dali, avança pela vertente norte dos Himalaias, recolhendo águas de degelo, chuvas de verão e um fino pó de rocha — um abrasivo natural que fará diferença adiante.

Batalha com as montanhas

Por um longo trecho, o Brahmaputra corre paralelo aos Himalaias até topar com uma muralha que se ergue a até sete mil metros. O dilema é simples: contornar ou atravessar. O rio fica com a segunda opção. Como um aríete, rompe o maciço, abrindo portões estreitos onde nasce o cânion de recordes. Ali, a água faz uma curva abrupta em torno do Namcha Barwa — a dobra conhecida como a Grande Curva do Yarlung Tsangpo.

Um cânion mais profundo que qualquer outro

O cânion se estende por mais de 500 quilômetros. Em alguns trechos, suas paredes se elevam quase seis quilômetros acima do leito. A profundidade média é menor, mas a escala foge ao senso comum.

A altitude do fundo do cânion varia de cerca de 2.900 a 600 metros, e em certos segmentos o rio despenca em sequência rápida. Não surpreende que os caiaquistas que conseguiram as primeiras autorizações nos anos 1990 tenham voltado abalados. A primeira expedição em que todos retornaram vivos ocorreu em 2002.

Por que o rio venceu as montanhas

Os cientistas apontam várias razões para o sucesso do Brahmaputra.

Acima de tudo, o processo foi paciente. À medida que os Himalaias se soerguiam, o rio continuou a cortar, sem permitir que novas rochas fechassem seu caminho.

Terra mantida sob guarda

Há muito, os moradores consideram este lugar sagrado — especialmente duas quedas-d’água, Rainbow (21 m) e Hidden Falls (30 m). Fizeram o possível para mantê-las escondidas e não sem motivo: um terreno tão inacessível costuma atrair olhares insistentes. Hoje, a China considera a área do cânion para um grande projeto hidrelétrico. Há relatos de que os trabalhos preparatórios já começaram. Como essa história vai evoluir permanece em aberto.

Cânion ou garganta: qual a diferença

Geólogos discutem isso há anos.

Uma definição diz que cânion é um vale quase inteiramente ocupado por um rio; garganta é mais ampla, com espaço para rio, estrada, até vila. Outra definição enfatiza as paredes: as faces de um cânion deveriam ser quase verticais. Por esse critério, o Grand Canyon mantém a coroa. Em profundidade pura, porém, o Yarlung Tsangpo o deixa muito para trás.

O rio onde tudo começa

No alto do Tibete, o Yarlung Tsangpo nasce como uma pequena língua de gelo. Quando se torna o Brahmaputra, já abriu uma passagem mais profunda que qualquer outro vale da Terra. Para as comunidades locais, o rio há muito sugere que até as barreiras mais duras cedem à persistência — e que, onde surge uma fenda, a vida acaba encontrando caminho.